terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Santa Catarina: tragédia, descaso e hipocrisia no sul do país


Jeferson Chomada

redação do Opinião Socialista



As águas começaram a recuar nas cidades atingidas pela enchente em Santa Catarina. No total, 97 pessoas foram encontradas mortas em decorrência da chuva até agora. Mas há inúmeros desaparecidos e é provável que o número seja maior. Os desabrigados chegam a 78 mil, mas o número de pessoas afetadas é de 1,5 milhão, um quarto da população do estado.Em Itajaí, uma das cidades mais atingidas, a população faminta e desesperada realizou saques em supermercados. Na edição do dia 26 de novembro, o jornal carioca O Globo chamou os saqueadores de ladrões. O que o jornal não disse é que faltam cestas básicas, e muitos comerciantes tentam se aproveitar da situação para cobrar ágio em alimento e em galões de água.Desesperados com a falta de alimento, moradores de Itajaí procuram comida para a família até mesmo no lixo. “A realidade e é que não está chegando comida para todos”, reconheceu um major do corpo de bombeiros.A cidade de Blumenau foi declarada pelos bombeiros como uma imensa área de risco, devido aos danos causados pelas chuvas. Pelo menos 95% da população da cidade está sem água potável.Na medida em que as águas cedem, surgem não apenas as várias histórias de horror daqueles que perderem tudo, inclusive suas famílias. A responsabilidade dos governantes também começa a vir à tona.Prefeitos e governadores não medem esforços para fazer populismo diante da tragédia. Como informa Alexandre Schwarz, morador de Navegantes, o governador Luiz Henrique da Silveira (PMDB) chegou a surgir num estúdio na TV com um colete salva-vidas para fingir que estava ajudando a resgatar alguém. Isso depois de pedir para que os turistas ficassem tranqüilos.Também não acreditei quando ouvi o governador do Estado, numa entrevista à rádio Band, dizer que Santa Catarina sofre das conseqüências da poluição atmosférica e até das conseqüências das bombas atômicas.Mas a tragédia enfrentada pelos catarinenses tem a ver com outras razões que estão além da mudança climática prevista pelo aquecimento global. Embora o estado tenha registrado constantes desastres naturais – seis tornados e um ciclone desde 2004 –, as previsões de verbas estaduais para prevenir as conseqüências geradas por desastres naturais caíram entre 2004 a 2011 (período de gestão de Luiz Henrique).Em 2004, as verbas previstas foram de R$10,2 milhões. Em 2007, baixou para R$9,6 milhões. A diferença representa uma queda de 6,7%.O governo federal não revela o quanto destinou ao estado em verbas para a prevenção. Mas o total dos recursos disponibilizados nacionalmente é de insuficientes R$372,9 milhões. Insuficiente para construir, apenas em Santa Catarina, diques de contenção, canais e algum sistema de alerta eficiente que previna muitas mortes e prejuízos, se acionado em tempo hábil.Já depois da tragédia, o governo federal anunciou que vai liberar R$1 bilhão para o estado. Mesmo assim, a população está tendo de dividir as poucas cestas básicas que chegam. O curioso é que para salvar as montadoras – que tiveram altos lucros nos últimos anos – o governo abriu os cofres prontamente para liberar R$4 bilhões.Além disso, dos 14 municípios de Santa Catarina que registraram mortos, apenas Itajaí assinou algum convênio com a União sob o governo Lula.Na tarde do dia 27, o presidente Lula viu de seu helicóptero o resultado desta política.


Flávio Bandeira
Enfermeiro/Resident e em Saúde de Família - Sobral / CE

"Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é possível fazer sentido" (Clarice Lispector)

0 comentários: